Dois oito dois, sete nove sete oito.
Ainda sei de cor o telefone da minha avó Josephina, que faleceu quando eu tinha doze anos, e de quem ainda sinto falta.
Naquela época, era bacana ter prefixo 282. Todo mundo deduzia: Jardins! Já era descolado.
Eu tinha uns quinze anos quando escutei: Babá? Achei aquela cantada ridícula. Estava num fliperama do Guarujá, acompanhando meu irmão caçula, com seis anos.
Não, irmã. Respondi bem seca, sem disfarçar a má vontade. Ele foi insistente, continuou puxando papo. Pediu meu telefone, mas eu não estava a fim daquela história. Me passa o seu, deixa que eu ligo – esta era minha saída clássica para me livrar dos garotos.
Ele me entregou um papelzinho com 261 não sei o que. 261? Eu também moro no Alto de Pinheiros! E aí o papo começou a fluir até se transformar em namorico de dois ou três meses. Convencida como eu era, já o imaginei pensando – bendito prefixo, quebrou o gelo.
Hoje, além do telefone da casa dos meus pais, o único número que sei de cor é o da minha endocrinologista, porque vivo entre tapas e beijos com a balança. De tanto ligar para pedir um horário com aquela urgência máxima, assustadora e imbatível de quando três ou cinco quilos começam a desmoralizar a cintura, decorei o número. E também porque com o tempo ela virou minha médica para tudo e, melhor que isso, grande amiga.
Não sei mais os telefones fixos das pessoas, assim como sei pouquíssimos números de celulares de cor. Quem sabe tudo é minha lista de contatos. Ela arrasa. Toco no nome da pessoa e a ligação é feita, como passe de mágica.
Se isso é bom? Talvez seja péssimo para prevenir Alzheimer, mas que é prático, é. Muito.
Nossa relação com o telefone foi totalmente transformada. Eu me lembro dos inícios dos namoros, quando ficava pendurada numa ligação madrugada adentro. Desliga você! Ah, não, você! Você, vai…
Até que se decidisse que os dois desligariam juntos, eu já tinha escutado uns oito gritos de desliga esse telefone! Isso porque tínhamos duas linhas em casa. E com quatro filhos, meus pais logo decidiram colocar a terceira linha. Ufa!
E hoje? Para quantas pessoas você liga? Fala, escuta a voz? Ri ao mesmo tempo, sem ser nos momentos alternados das mensagens? A revolução digital trouxe a reboque a revolução na comunicação.
Meu WhatsApp bomba o dia inteiro, grupos de mães da escola, mães da catequese, do jazz, da turma da faculdade, da família, dos jobs, do coaching, das meninas do colégio, da mexerica, da abobrinha…
Esquecendo os excessos, eu adoro as mensagens. Rápidas, eficientes. E ficamos conectados a muito mais gente. Fantástico.
Agora, quando penso que as novas gerações só se comunicam digitando e, pior, à base de emoticons, sinto o quanto fui feliz por vivenciar aquele lenga-lenga para dizer um simples tchau para o namorado.
Eles não sabem como é gostoso escutar “desliga você primeiro”.