Meu nome é Kuki. Na verdade não é Kuki, é Claudine, mas Claudine é um nome francês que fica muito feio em português e não se parece comigo, então só consta na certidão de nascimento mesmo, junto com mais 3 nomes bem complicados de se pronunciar.
Kuki vem de cookie. Biscoito.
Meu avô chinês me chamou assim quando me viu na maternidade e me pegou no colo, pois eu tinha o rosto bem redondinho e diz ele, eu cheirava como cookies saindo do forno.
Cresci numa família de imigrantes, metade francesa, metade chinesa. Ou seja, Franesa.
Sempre fui meio estranha nas escolas brasileiras pois os costumes em casa eram muito diferentes das outras casas. Meus pais me criaram pro Mundo. Eu era cheia de opinião e atitude desde cedo… aí não deu muito certo e eles resolveram me mudar de escola. Fui parar numa escola de gringo mesmo, um colégio internacional e todas as aulas eram em inglês. Lá tinha meninos e meninas de 40 nacionalidades diferentes e eu me sentia um peixe nadando feliz no mar.
Lá me ensinaram a “socialize” (socializar) muito rápido. Foram muito acolhedores, queriam saber tudo de mim, me convidavam pra tudo e eu perguntava porque faziam isso. Eu era carrancuda, meio quieta e não entendia. Aí me explicaram que o tempo era curto (a maioria ali eram crianças de pais expatriados) e que não sabíamos quanto tempo tínhamos juntos. Eventualmente iríamos nos perder quando voltassem para seus respectivos países. Então precisávamos aproveitar. Achei aquilo muito lindo e nunca mais esqueci. Comecei a praticar o “socializing”. E assim foi o tempo todo, me interessando pelas pessoas. Sou do tipo que você acha louca, que conversa com gente na fila de banco, no farol, em tudo quanto é lugar, sem filtro.
Mudei pra França pra estudar e lá fiquei por 10 anos. Viajei muito. Muito mesmo, sempre “socializing”. Fiz amigos nos 4 cantos da Europa. Foi aí que as conexões começaram a se multiplicar. Eu olhava pra uma pessoa e falava na minha cabeça: Esse cara precisa conhecer aquele. E conectava. E rolava amizade, negócio e várias coisas legais.
Comecei a colecionar e cultivar relações com as pessoas. Digo colecionar e cultivar pois são muito preciosas e eu cuido muito. Atravessam décadas e oceanos.
Depois de um tempo minha reputação de “connector” se espalhou e headhunters começaram a me procurar pedindo indicações. Consegui contratos pra diversos amigos, criei inúmeros projetos juntando pessoas que nunca tinham se visto… Faço isso até hoje.
Voltei pro Brasil, fiquei um tempo aqui, viajei de novo, morei na China por 4 anos e voltei pra ter a minha filha, a Jazz (que se chama na verdade Jasmin).
Ao todo foram 15 anos de idas e vindas colecionando histórias e amigos. E os conectando.
Em 2015 estourou a crise no Brasil, mais uma, e centenas de milhares de pessoas perderam o emprego, inclusive eu.
Naquela época eu estava trabalhando na Natura.
Decidi que aquela crise não ia me abalar e que poderia ser uma baita oportunidade pra um monte de gente se reinventar.
Convidei algumas pessoas do meu network pra participarem da idéia e compartilharem suas agendas.
Na minha cabeça, uma rede de relacionamentos pode se juntar com outras mil, e estas podem tornar-se infinitas…e trabalho, apoio, recursos não iriam faltar.
Aí criei um grupo no Facebook e o chamei de DOTS. Dot significa “ponto” em inglês e os membros do grupo são “pontos conectados”. Unidos, transformam-se em algo maior, com sentido e com um propósito comum, que é o bem de todos. O objetivo do DOTS é conectar talentos. O intuito não é dividir informações, mas multiplicá-las.
O manifesto do grupo foi inspirado na palavra Interdependência: “Estado ou qualidade de duas pessoas ou coisas ligadas entre si por uma recíproca dependência, em virtude da qual realizam as mesmas finalidades pelo auxílio mútuo ou coadjuvação recíproca.” – Somos todos UM.
Desde a criação, o DOTS já acumula algumas conquistas significativas a partir de grandes campanhas, como a de arrecadação de 15 mil litros de água potável em 72 horas para a cidade de Mariana (MG), com doações de diversos pontos do país e do exterior (Estados Unidos e Europa).
A segunda grande campanha foi em apoio à comunidade Paraisópolis após o incêndio em Maio deste ano (SP) – foi organizado um ponto de coleta e em dois dias os pontos foram multiplicados em seis, um verdadeiro mutirão de solidariedade, envolvendo milhares de pessoas. Centenas de famílias em Paraisópolis foram auxiliadas.
Fora isso, o DOTS gera muitas oportunidades pra milhares de pessoas.
E tudo começou com uma crença: a de fazer o bem e multiplicá-lo através do outro.
De 300 pessoas passamos a 25.000 em 9 meses. Trabalhando juntos, acreditando que a generosidade e a gentileza podem realmente transformar nosso mundo num lugar melhor.
Kuki Bailly