Neste 8 de Março vou aceitar suas flores.
Sempre achei isso uma grande bobagem, mas mudei de ideia. Eu sou assim, penso, repenso, mudo e reconheço. E hoje, espero que você consiga fazer o mesmo. Repensar, mudar.
Aceito suas flores, mas não sozinhas. Elas precisam vir acompanhadas do seu pedido de desculpas. Sei que você não tinha pensado nisto, que mandou rosas por gentileza, para fazer um agrado, porque é de praxe, porque hoje é o meu dia. Mas é pouco, sabe? Se quer homenagear, que haja um significado verdadeiro.
Você não entende? Não sabe por que precisa se desculpar? Eu já imaginava.
Vou colaborar com a sua memória.
Aguardo suas desculpas por aquela noite no show, no baile de carnaval, na festa em que você me puxou pelo braço e quis me beijar assim, do nada, e me soltou num quase empurrão quando eu recusei.
Por aquela tarde em que eu descia a rua íngreme e curva, de bicicleta, e você gritou que meus “peitinhos” estavam nascendo. Ainda me lembro da camiseta amarela que eu usava. E da vergonha vermelha que ferveu minhas bochechas e me fez andar curvada por meses.
Quero saber do seu arrependimento pelo dia em que pediu para subirmos ao apartamento para buscar sua carteira, você queria pagar um sorvete, e lá me jogou num sofá e tentou me agarrar à força. As marcas da sua covardia ficaram nos meus braços e memória. Ingênua, não imaginava que passaria por isso assim, com um colega de faculdade.
Espero ouvir suas desculpas por aquela vez em que me puxou de um jeito bruto, fez cena, me xingou e me largou sozinha na festa, no meio da madrugada, porque julgou que eu estivesse olhando para alguém.
Aguardo sua retratação por ter me demitido, sem qualquer motivo profissional, assim que decidi que não seria mais sua namorada.
Também espero que lamente sobre aquele momento no consultório quando, no meio de um exame clínico e protegido pela aura de um avental médico, você roçou seu antebraço sobre o meu sutiã. Você dosou o ato com tanta maestria, que eu não sabia se estava imaginando coisas. Confusa, voltei no dia marcado para o retorno, poderia estar julgando mal. Tudo igual, cena idêntica. Sumi.
Foram tantas situações, não é verdade? E ainda preciso dizer que tive sorte. Que as marcas, dores e decepções poderiam ter sido muito piores.
Agora deixe aqui só uma parte destas rosas. Depois desta reflexão, entregue as outras para a sua filha.
Converse com ela e torça.
Torça para que, entre tantos homens bacanas que ela possa conhecer, ela não encontre alguns iguais a você.
Patricia Chaccur
(Se você, homem, protagonizou alguma destas cenas, esta carta é para você.
Se você, mulher, foi vítima de alguma destas situações, esta carta é para eles.
Se você, homem, não protagonizou, mas se indignou com alguma destas cenas, esta carta é para você entender as mulheres que estão perto de você).