Assisti a série 13 Reasons Why, produção original da NETFLIX que estreou mundialmente no final de março. Apesar de ambientada em um universo adolescente, ser um tanto arrastada e claramente querer trazer à tona a questão do suicídio juvenil, tem uma mensagem maior em seu todo: o dever de prestarmos atenção aos Outros e nos tratarmos melhor.
Em qualquer ambiente ou círculo de amizade ou familiar, a única maneira de conhecermos aqueles com quem convivemos é prestando atenção nas mensagens não faladas e nas Histórias de cada um.
Isto é muito sério e complexo! Principalmente na atualidade onde estamos absurdamente ligados às redes sociais e cada vez menos nos relacionando olhos nos olhos.
A série vem com temas imprescindíveis para os nossos filhos, nossa família, nossos ambientes de trabalho, relacionamentos e para a sociedade como um todo.
A premissa da narrativa, baseada em livro homônimo de Jay Asher, de 2007, e que no Brasil foi lançado pela Editora Ática, em 2009, com o titulo Os 13 Porquês, e que já vendeu pelo mundo mais de 2 milhões de exemplares, é sem dúvida o suicídio de Hannah Baker, que através de 13 fitas analógicas K7, gravadas pela protagonista, lista os 13 motivos e os 13 personagens responsáveis pelo seu ato silencioso, solitário e desesperado. A série se desenrola enquanto o colega Clay Jensen, de 17 anos, ouve as fitas e podemos acompanhar a trajetória de relacionamentos, situações de bullying, convivência com os amigos, evolução psicológica do personagem e o silêncio de Hannah.
Trás em paralelo temas contemporâneos e altamente perigosos, com relatos amplos e autênticos de machismo, homofobia, estupro, automutilação, injúrias emocionais e nos faz pensar sobre o descompasso do poder das palavras entre quem diz e quem escuta.
Para mim, como pai de um menino de 9 anos e de uma garota que já foi adolescente e que viveu situações semelhantes, foi desesperador. Aflitivo pelo fato de como o silêncio e a falta de conversa entre pais e filhos é aterrador. Como muitas vezes a nossa opção é o caminho mais fácil de dizer sim e deixar rolar. Incômodo pelo fato de como colegas de classe, namorados e amigos, apesar de conviverem diariamente entre si, pouco conhecem uns dos outros e tampouco estão interessados a olhar verticalmente aquele que está ao nosso lado.
Isto também acontece em ambientes de trabalho. Quantas vezes estamos ao lado de pessoas por horas a fio e sequer sabemos suas aflições, alegrias, prazeres, medos e inseguranças? Tocamos nossa vida e pronto. E cada um, cuida da sua.
O que temos com isso ? Tudo! Todos estão interligados. O mood de um interfere diretamente no bem estar do coletivo, em prol de um objetivo maior.
Por isso a obrigação de prestarmos atenção aos Outros. Conhecer as suas Histórias. Ouvir de verdade o que o Outro está querendo dizer.
Milton Hatoum, em sua última coluna no O Globo sentenciou:
“Saber observar é, de algum modo, compreender”.
Estamos, já há tempos, vivendo sinais de que os temas abordados pela série deve ser um alerta a toda a sociedade. Sue Klebold, mãe de Dylan Klebold, um dos adolescentes responsáveis pela tragédia na escola America Columbine, em 1999, em seu livro ‘O Acerto de Contas de uma Mãe – A Vida Após a Tragédia de Columbine’, declarou:
“Seus amigos mais próximos, garotos com quem ele conviveu todos os dias durante anos, não sabiam quanto ele estava desesperado. Alguns se recusam a acreditar nessa caracterização até hoje. Mas eu era a mãe dele. Eu deveria saber.”
Sim. Temos de saber! Não só dos nossos filhos, mas como de todos que estão a nossa volta. Um pedido de ajuda, muitas vezes, é silencioso e temos de estar atentos, prestar mais atenção para perceber os sinais. Ouvir as Histórias mesmo que seja para refletir sobre nós mesmos. O depois pode ser tarde demais.
“As pessoas estão sofrendo e merecem ser escutadas”, publicou Selena Gomez em seu Instagram.
Não vou entrar na questão do suicído, por considerar que a série passou um tanto ao largo, pois apesar de ir fundo no tema, esqueceu de contextualizar as questões mais complexas que envolvem um suicida por sempre estar atrelado a adoecimento mental e pelo fato da protagonista em momento algum ter pedido ajuda a quem quer que seja na série, mas destaco 10 frases colhidas e que simbolizam muito o que devemos refletir:
Repito. Isto também se aplica aos ambientes de trabalho.
Um dos pilares conceituais do 5511SP é OUVIR O OUTRO através de suas Histórias. Contamos Histórias de pessoas não só para entreter ou exercitar o storytelling, mas para nos aprofundarmos no Ser Humano, entender suas razões e motivações. Conhecer melhor os “porquês” para podermos ter uma vida melhor e mais digna. Nada melhor do que um boa História para suprir qualquer superficialidade da nossa era e para aprofundar relacionamentos tão líquidos e efêmeros. Foi a forma que eu encontrei para olharmos o Outro, aprendendo, sentindo e nos emocionando.
Contar Histórias. Formular questões. Raciocionar com emoção. Sentir. Amar. Abraçar. Acolher. Ter saudades. Ser amigo. Entender. Ser Humilde. Generoso. Desconfiar. É o que temos que exercitar.
Meu sonho de consumo (e isto já está contecendo em vários lugares e empresas – veja meu artigo no LinkedIn) é ver empresas contando suas Histórias, é ver empresas patrocinando seus funcionários a contarem suas Histórias. Este, tenho certeza, é o melhor jeito de fazer com que as pessoas se aproximem e façam com que seus ambientes de trabalho sejam mais divertidos, interessantes e profícuos.
Uma boa semana a todos nós com mais Histórias para serem contadas e ouvidas!