Quando eu buscava inspirações para o que seria o atual 5511SP, me deparei com o trabalho do artista Jason Polan, o Every Person in New York, onde desde o ano de 2008 ele desenha as pessoas de Nova Iorque com um traço muito peculiar…
ENCONTROS, por Zé Mangini.
Antes de qualquer coisa, preciso falar o que aconteceu nesta semana. Um mundo novo se abriu. Entrei neste universo digital e descobri na prática que ele engole as pessoas. Sempre fui usuário das facilidades digitais, mas nunca tinha estado à frente de um projeto como o 5511SP. Já editei revistas através da minha editora, já produzi conteúdo para cadernos de jornais, já fiz campanhas publicitárias para o mesmo cliente durante anos, já fiz um monte de coisas incríveis, mas nada te absorve tanto como o Mundo Digital. Se você quiser ficar 24 horas ligado, você encontrará coisas para fazer-ajeitar-arrumar-pesquisar-aprender-descobrir-conhecer-entreter-aprimorar-experimentar-testar. É inesgotável e ao mesmo tempo incrível. E nesta semana de lançamento do site, página no Facebook e Instagram eu pude viver isso na pele. Acompanhei cada curtida, cada comentário, cada repostagem e principalmente cada História contada. Uma delícia interagir com cada um de vocês. Vamos em frente felizes!
Voltando um pouco no tempo.
Quando eu buscava inspirações para o que seria o atual 5511SP, um dos trabalhos geniais que me deparei foi o do artista Jason Polan http://everypersoninnewyork.blogspot.com.br, o Every Person in New York, onde desde o ano de 2008 ele desenha as pessoas de Nova Iorque com um traço muito peculiar, de um jeito randômico e compulsivo que no seu todo, traça o perfil de uma cidade e das pessoas que vivem lá, sem deixar de mostrar minuciosamente as características de seus personagens. É o todo no detalhe, se isso pode acontecer.
Mas foi através da internet, especificamente em um grupo do Facebook, o Dots, que uma arquiteta mostrou seu trabalho e eu consegui projetar ali uma idéia do que poderia ser um jeito de contar Histórias com a cidade de São Paulo de pano de fundo. O olhar de uma arquiteta iria acrescentar muito no que eu pretendia da seção. Tinha de conversar com ela para entender como ela veria essa situação de contar, no bico de pena, Histórias.
Mirei em uma coisa e acertei em outra muito melhor. Luciana Guerra é uma mulher plena, mãe de três filhos, sensível, inteligente, lutadora, crítica e com uma visão precisa da arquitetura, urbanismo e amor pelas pessoas. Uma mistura infalível para o que estaria por vir. Na hora ela topou embarcar no 5511SP. Mas a partir daí eu sabia que tudo podia acontecer. Mentira! Não sabia de nada!
Num desses dias frios e chuvosos, chorei ao receber um e-mail da Lu com um sketch, o da escola da filha, o EMEF D’Alkimin, que fica na Vila Olímpia. Que está aí, publicado no site. Um desenho que ela tinha insistido em fazer, que já tinha rascunhado, feito uma vez e que não estava satisfeita com o resultado. Luciana é daquelas pessoas que não entregam enquanto não estiverem absolutamente felizes com o resultado. Mas ao invés da Lu entregar um desenho no pico de pena, trouxe alma, sensibilidade e amor. Prefiro transcrever o trecho do e-mail:
“Eu tava com essa imagem na cabeça. Acordei ontem com ela. Com a imagem de referência.
Sabe meu processo criativo é bem peculiar. Quando vi o bicicletário pronto, fiquei emocionada, vi a bike de uma menina parada, fiquei ainda mais. Mesmo que o piso não esteja pronto, as sinalizações, tudo aquilo, trouxe uma melodia de paz interior.
Fazer da escola pública, um espaço melhor, através do que sei, ser escutada e não ter as vaidades da arquitetura, traz paz interior. Então estou fazendo meu trabalho por uma causa maior : por crianças que terão profissões, um futuro melhor.
Nisso entra meu processo criativo : a felicidade; mesmo que eu esteja doente, sem pique, mas se a causa é boa e por ela eu me sinta inspirada a sentar e desenhar, usar de todos os recursos que sei, lembrar do que meu pai me ensinou, ver até que há muito dele em meu desenho, me deixa feliz. Quando acabei o desenho, eu sabia a hora de terminar. Teria usado canetas mais finas, mas os pivetes detonaram as minhas. Depois compro.
A história é minha, a Alessandra sou eu, Luciana Alessandra Espinos Guerra Martins, rsrsrsrs . Dei uma de Fernando Pessoa, mas é verdadeira em tudo. Ir para à escola pública, tem sido uma revisão de valores: para mim por ver tantas realidades diferentes e no mesmo barco e para as crianças, uma nova forma de se colocar no mundo.
Zé, você ganhou e eu tambem uma amizade daquelas que se coloca na mão, se conta e sobra dedos. Amizade de qualidade! Precisamos conversar mais!”
Tem mais Histórias por aí. A Lu é quem está fazendo este bicicletário para a escola pública sem qualquer remuneração. A Lu está se adequando a nova realidade brasileira. A Lu é uma mulher contemporânea. A Lu embarca em projetos pela coletividade, doando seu tempo, seu conhecimento e seu amor à coisa pública e àqueles alunos. E a Lu, não parou por aí, no e-mail seguinte ao que eu falei que iria publicar a História, ela dá a machadada final:
“Sinto falta dele. Meu pai. Foi o cara que teve muita paciência comigo, sentava-me no colo e ficava fascinado com meus desenhos.
Ele falava que desenhar era minha praia…
Eu dizia que era o céu dele, e minha mãe arrematava dizendo que éramos ” artistas de papel riscado”.
Acho que acabei fazendo as perspectivas para nunca esquecer dele, do bom dele e deixar o legado, pois é isso que deixamos na vida, Histórias boas de coisas bem feitas com o coração!
Manda bala, Zé!”
Chorei pelo encontro. Chorei pela História. Chorei de saudades do meu pai. E eu ainda ganho da Lu corações que voam pelo celular para encerrar cada uma de nossas conversas pelo WhatsApp. Grande beijo, Lu. E muito obrigado por estar aqui com a gente contando suas Histórias em papel riscado na seção Sketch.
Esta é mais uma das muitas Histórias que passam por aqui. Todo mundo tem uma História. Qual é a sua?
Zé Mangini, criador e fundador do 5511SP. Pode ser encontrado em casa com a Juliana, o Samuel e a Snowball a qualquer hora.