EDITORIAL
Ontem à noite assisti ao novo programa da Globo ‘Conversa com Bial’ que teve como primeira entrevistada a Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ministra Cármem Lúcia.
Eu nem gosto tanto do Pedro Bial assim, mas tenho que admitir que ele é um dos bons jornalistas que temos neste Brasil e que insistentemente levanta temas de grande relevância com bons fundamentos e argumentos e que por anos foi um digno correspondente de guerras mundo a fora.
O programa que abre com um monólogo do Bial ao velho estilo Big Brother, pretende manter conversas com seus entrevistados e por isso me interessa muito. Manter conversas é ouvir Histórias e este também é o mote do 5511SP, que criamos e fundamos há quase um ano para contar Histórias das pessoas que vivem em São Paulo. Aliás o programa poderia ser mais focado nas Histórias das pessoas no que em temas polêmicos. Mas Histórias nem sempre dão audiência e para um talk show é necessário um molho mais picante.
A cidadã-convidada Cármem Lúcia provou, com sua conversa franca e direta, que é muito bom ouvir uma pessoa esclarecida, com senso de humor, firme em suas convicções e disposta a colocar o coletivo acima do individual. Demonstrou mais uma vez que é bom para a alma ouvir alguém que sabe bem a quem um servidor público está à serviço. Ela deixa claro que está a serviço do povo (que paga seu salário) e a serviço da nossa Constituição.
Sem qualquer tipo de julgamento de minha parte sobre as decisões por ela tomada nas cortes em que já passou, ela é um exemplo de como um servidor público deve se portar e de como um político deve atuar. Mineira da cidade de Espinosa (no extremo norte do Estado) é amante da língua portuguesa e da liberdade de expressão. Como todos nós deveríamos ser.
Aliás, hoje (03 de Maio) é o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
Porém, infelizmente não é o que temos visto nos últimos tempos com nossos políticos cheios de benefícios em seus cargos, votos secretos e trabalhando somente em favor de seus próprios interesses, destruindo nosso país e nossas esperanças na Justiça.
Separei algumas frases memoráveis atribuídas à Ministra Cármem Lúcia para ilustrar um pouco do que estou falando aqui e para acreditar que repetindo tais frases, elas virem verdades absolutas em nossas vidas tupiniquins:
“A Lava-Jato não está ameaçada, não estará. Eu espero que aquilo que cantei como hino nacional a vida inteira, nós do Supremo saibamos garantir aos senhores cidadãos brasileiros, de quem somos servidores: verás que um filho teu não foge à luta”.
Afirmou a ministra ontem no programa do Bial.
“Não tenho notícia de um ser humano que não aspire à Justiça”
Em seu discurso de posse no STF.
“Não há prévia nem permanente definição para o justo, mas há o crédulo da justiça sem pré-definição, necessário apenas para acreditarmos não ser possivel viver sem justiça. É o juiz o depositário dessa fé, garantidor da satisfação, desse sentimento”
Também em seu discurso de posse no STF.
“Mas na vida aprendi que quem por direito não é senhor de seu dizer, não se pode dizer senhor de qualquer direito.(…) O mais, é censura. E censura é forma de cala-boca.”
Em 2015 ao votar a favor de liberar a publicação de biografias não autorizadas.
“Na história recente da nossa pátria houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois nos deparamos com a ação penal 470 (Mensalão) e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas da corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão sobre a Justiça. Não passarão sobre os juízes. Não passarão sobre a Constituição do Brasil.”
Uma das frases mais conhecidas.
E algumas outras frases soltas:
“O dinheiro é para o crime o que o sangue é para a veia”.
“Quando não se fazem escolas, falta dinheiro para presídios”.
“Caixa dois é crime; caixa dois é uma agressão à sociedade brasileira”.
“Eu não queria que o jovem desacreditasse da política. Nem toda política é corrupta. Ao contrário. A humanidade chegou aonde chegou porque é política ou a guerra”.
“Corrupção significa não que alguém foi furtado, mas significa que um sociedade inteira foi furtada, por uma escola que não chega, pelo postos de saúde que não se tem, pelo saneamento básico, que centenas de cidades não têm”.
“Autonomia não é soberania e não é autorização para fazer o que bem entender.”
Sobre o ofício de juiz.
“Às vezes eu me pergunto se não estamos tendo uma grande oportunidade de passar da democracia representativa para formas de democracia direta”.
Sobre as mídias sociais, vontade popular e a velocidade das informações
É de se admirar uma Ministra do STF que ao fazer o seu primeiro discurso como presidente daquele órgão, afirmou que quebraria o protocolo e, ao invés de cumprimentar em primeiro lugar o presidente da República alí presente, Michel Temer, cumprimentaria o cidadão, a quem chamou de “autoridade suprema de todos nós servidores públicos”.
Ao mesmo tempo em que escrevo este artigo, fica martelando a decisão da soltura de políticos e pessoas ligadas a corrupção e a manutenção deste estado de roubalhereira e desrespeito ao cidadão e ao bem público.
Parece que vivemos mundos paralelos e antagônicos. E estes mundos estão debaixo do mesmo teto! Teríamos que começar tudo de novo? Uma nova Constituinte, com novos e velhos valores se fazendo valer?
Mas acredito na Justiça e no cidadão de bem. E na minha vida jurídica, lá pelos meus vinte anos, optei por não exercer a magistratura por de fato acreditar que, como ser humano, não teria a capacidade de julgar ninguém em qualquer circunstância. Cada um é responsável por seus atos e receberá a sua sentença através do povo (neste caso), das Leis (neste caso e em outros casos) ou mesmo de Deus (em todos os casos).
Por estes exemplos, devemos exercer em plenitude, o nosso direito à liberdade de expressão e não deixar que pessoas nefastas acabem com o nosso país e a nossa esperança de uma vida justa, livre e digna. Com menos diferenças e mais acolhimento, pensando sempre no Outro e no Coletivo.
Devemos exercer o nosso direito de cidadãos a ter um Congresso ilibado, justo, sem privilégios de qualquer tipo, transparente e unicamente a nosso serviço. Trata-se do nosso dinheiro que é ganho com muito sacrifício. Trata-se do nosso povo trabalhador. Trata-se da nossa diginidade. Isto vale para os demais poderes, inclusive o do povo e a imprensa.
Não podemos nos calar!
Por nós, pelos nossos filhos e por todos aqueles que, por qualquer razão, não têm condições de lutar.
Encerro com a célebre frase de Martin Luther King:
Ainda me resta amor e crença por este país!