Nos comunicamos o tempo todo em todos os tipos de relacionamentos que temos. Na nossa casa, com nossos filhos, irmãos e pais. No trabalho com os chefes, assistentes, colaboradores e subordinados. Na rua, no restaurante, no mercado… Nos comunicamos conosco mesmo. O tempo todo. Até o silêncio é uma forma de comunicação.
Por causa de um curso que estou fazendo, acabei tendo contato com universos que ainda não havia explorado na minha animada vida . Hoje percebo o cuidado que devemos ter com a nossa comunicação em todos os níveis e vejo claramente a responsabilidade que temos ao receber e ao transmitir mensagens. Percebo claramente os erros que cometemos diariamente na nossa comunicação com o Mundo.
A máxima “Quem dá o tom é o receptor da mensagem” foi lançada logo na minha primeira aula e determinou o nível do curso que eu teria pela frente. Sim, é a mais pura verdade! Quando recebemos uma mensagem, a nossa reação e a nossa resposta àquela mensagem é que vão determinar para onde a conversa vai ser levada. Se reagirmos, recebendo como agressão, o desentendimento ocorrerá na certa. Se por outro lado, soubermos acolher a mensagem, refletindo sobre o porque daquela mensagem e entendermos os motivos que a determinaram, vai ocorrer a união dos pensamentos, levando a uma conversa produtiva e ao entendimento. Experimente. É tiro e queda! É empatia. A magia se realiza!
Em tempos de mídias sociais exacerbadas, de tristes notícias espalhadas pelo mundo, de descrença na humanidade e total desrespeito à Declaração dos Direitos Humanos – que completa 70 anos – a nossa simples comunicação corriqueira, se feita com cuidado e carinho, torna-se imperativa. E é por aí que tenho caminhado.
Mas o que eu quero realmente ressaltar é a nossa responsabilidade na comunicação diária. O quanto somos responsáveis pela forma de nos comunicarmos. Mais ainda: o cuidado que devemos ter ao nos comunicar com nossos filhos e nossos pais. Aos filhos porque isso determinará como eles irão se relacionar com o Mundo. Aos pais, pelo respeito pela vida que já viveram e por tudo que passaram. É aqui que deve começar o nosso cuidado. Sim, dentro de casa, com aqueles que achamos que temos liberdade de falar como bem entendemos. Eles são as nossas crianças e os nossos velhinhos. Depois podemos transportar para as nossas outras relações.
Um dos livros que mais me impactou foi Comunicação Não-violenta, um best-seller internacional, do americano Marshall Rosenberg, que trata da forma pela qual nos comunicamos com todas as pessoas com as quais interagimos. A cada página, uma lição. A cada questão, uma profunda reflexão. Não consigo parar de lê-lo, porque fico voltando as páginas e lendo de novo. E percebo o quanto me comunico de forma errada, muitas vezes violenta. Mas isso acontece porque com frequência não reconhecemos e percebemos nossa aspereza no trato com as pessoas. É pura ignorância e falta de prática. Mas quando temos conhecimento e nos atentamos à forma com a qual nos comunicamos, fica muito claro. E o mais importante, fica fácil mudar o tom.
E quanto mais me aproximo deste conhecimento, mas me alerto sobre a responsabilidade que tenho.
Outro dia, levando meu filho ao colégio pela manhã, tivemos um desentendimento por causa do controle do portão da garagem. Ele queria usar o novo controle e apertou os botões errados. Estávamos em cima da hora (como quase sempre) e aquilo nos faria perder alguns preciosos minutos. Que bobagem! Reagi em um tom desnecessário e os olhos dele encheram-se de lágrimas. No trajeto, conversando sobre o ocorrido, ele me disse que muitas vezes eu sou muito ríspido com ele. Duro. Sim, na intenção de educar. Do alto do meu pretenso pedestal de pai. Mas o que eu estava educando a ele? A ser duro? A reagir rispidamente por conta de uma bobagem? Mostrando que só há uma forma de fazer a coisa certa? Se educar é dar exemplo, eu estava, com aquela minha atitude, dando o pior exemplo possível. Para ele, só estava experimentando o novo controle, exercitando a sua autonomia, matando a curiosidade. Pedimos desculpas um ao outro e prometi a ele prestar mais atenção a este tipo de coisa. Mal sabe ele o quanto este assunto anda pela minha cabeça ultimamente.
Agora pensa. Quantas vezes ao dia fazemos coisas parecidas? Quantas vezes reagimos erroneamente nas nossas inúmeras comunicações? Somente nós somos os responsáveis pelas nossas reações e comunicações. E ao reagirmos assim, qual a mensagem que estamos querendo passar? Podemos mudar, né? Dizem até que isto pode mudar o Mundo. Eu acredito.
É um exercício diário e sem fim. Devemos reformular a maneira pela qual nos expressamos, ouvimos e percebemos o Outro. E assim, ao invés de termos reações automáticas, podemos ter respostas conscientes baseadas naquilo que de fato percebemos, sentimos e desejamos.
Boa prática para todos nós.
Zé
Foto tirada pela minha esposa comigo e meu filho há alguns anos passeando em uma tarde chuvosa em Paris.
“Poderia haver maior milagre do que olharmos com os olhos do outro por um instante?”
Henry David Thoreou