Publicitário e Diretor de arte, Eduardo, um tanto cansado de sua rotina, abriu mão de tudo para viajar pelo Mundo para observar culturas, comportamentos e tendências. Mas esta viagem não só mudou o modo dele ver a vida e sua relação com o modelo de trabalho, como o lançou a ser um exemplo de homem contemporâneo. Pela experiência do Eduardo, não precisamos mais ser somente uma coisa, ter somente uma profissão, um ofício. Podemos ser muitos e fazer coisas diferentes. A vida fica mais interessante. O importante é a experiência, o aprendizado e a convivência com as pessoas. Ele se denomina um fazedor. Vale conhecer mais da História deste cara. Uma História que abre a nossa percepção para o novo.
Eu moro oficialmente em São Paulo, mas parte da minha vida ainda está em Brasília. Já morei em Barcelona, Bangkok e São Francisco. Mas eu fui fazer o One Day Hand em São Paulo porque achei que era o melhor lugar para mostrar esta cultura. Isto já é muito feito em outras cidades do Mundo: trabalhar em lugares diferentes, viver em lugares diferentes. Se tem um lugar onde eu conseguiria trabalhar como marceneiro, bartender, trabalhar em um restaurante e fazer coisas diferentes do que eu sempre fiz na minha vida e carreira, este lugar é em São Paulo.
Na verdade eu fui para fazer uma pesquisa de mercado, para observar coisas diferentes que tinham lá fora e que não tinham por aqui ainda. E o que eu vi de diferente, foi isso: as pessoas trabalham e viajam. Aqui não. A gente termina a escola e tem de escolher a faculdade, trabalhar, se formar, casar, ter filhos, se aposentar e aí começar a curtir. Essa molecada lá de fora, está fazendo isso aos dezenove e com menos de 25 anos de idade, voltam para definir, já com uma certa bagagem, o que elas querem fazer de suas vidas. Eu acho que o que eu trouxe de mais valioso foi esta cultura das pessoas em relação especificamente ao trabalho. E também foi quando eu percebi que não queria mais voltar para a minha área.
Comecei a trabalhar em algumas coisas. Trabalhei em uma reforma de um apartamento como ajudante de pedreiro, e alguns outros ofícios. Quando voltei para São Paulo eu insisti neste assunto, querendo trabalhar em coisas diferentes até que em maio deste ano, fiz o One Day Hand, que são trabalhos por um dia somente. Me propus a fazer isso por 31 dias, para provar que era possível fazer coisas diferentes, experimentar coisas diferentes e provar que é possível para aquelas pessoas que estão cansadas de fazer a mesma coisa e não sabem por onde começar. O começo é fazer coisas diferentes. E esta foi a idéia. Eu consegui 31 trabalhos, assumindo que eu não tinha experiência. Fui até contratado pela minha mãe para fazer a função de filho por um dia – no Dia das Mães, em Brasília. Mas teve a dinâmica de trabalho todos os dias. Foram experiências de trabalho. Tudo isso para provar que é possível este movimento e São Paulo, é um lugar muito rico de projetos novos.
É uma forma de chamar a atenção para mostrar esta cultura nova, aquilo que as pessoas fazem muito lá fora, e aqui já é possível se fazer apesar da mão de obra não estar barata. E tem também o problema da contratação. As pessoas, lá fora, que trabalham no que os brasileiros médios chamam de subemprego, tiveram boa formação, sustentam suas famílias, tem seus carros e fazem tudo o que é necessário fazer. Tudo isto é muito mais delicado e profundo. É uma mudança de comportamento. O problema do Brasil não é somente o emprego, é a cultura das pessoas.
Eu consegui ver isso pelo Mundo, em atitudes de pessoas. Um exemplo bem prático disso, foi um australiano na fila da imigração que me deixou ver o passaporte dele. O cara tinha viajado o Mundo inteiro. Eu fiquei impressionado e perguntei quantos anos o cara tinha. Ele tinha 25. E perguntei o que ele fazia da vida para ter viajado tanto. E ele me disse que era carpinteiro. Aqui no Brasil, o carpinteiro, na maioria das vezes é uma pessoa que não teve muitas condições financeiras, não estudou muito e virou carpinteiro, pedreiro, esses ofícios. E ele explicou que na Austrália, é um trabalho como outro qualquer. Falou que na Austrália um publicitário ganha seis mil dólares e um carpinteiro pode ganhar mais do que o publicitário. É muito foda isso. Por que a gente com 18 anos de idade não pode escolher ser pedreiro, por formação? Eu trabalhei mais de dez anos na minha profissão de publicitário e nunca precisei mostrar o meu diploma para ninguém. Tudo o que eu aprendi foi dentro de agências de publicidade. Não foi em uma sala de aula. Respeito muito. Foram esses exemplos de pessoas que levaram a prestar atenção neste estilo de vida, o de ser um maker.
E eu via poucos brasileiros fazendo isso. No Brasil vemos pessoas fazendo isso por sobrevivência, quando deve ser feito por prazer, por opção, tal como um advogado ou um engenheiro.
A primeira coisa que eu fiz quando saí da publicidade, foi reduzir drasticamente o meu custo de vida. Vendi o carro, diminui todos os gastos, não compro mais coisas desnecessárias como eu comprava. Este foi o primeiro movimento. Assim trabalhando com as diárias de trabalho, eu consegui arcar com o meu novo custo de vida. E ao mesmo tempo, fui estudando, me capacitando para fazer outras coisas.
Eu vejo de uma forma bem clara que a receita para o novo jovem é que ele tenha este conceito contemporâneo. Isso é, falar para os pais que não sabe o que quer fazer, se este for o caso. O contemporâneo é experimentar a vida, as suas opções. Mas tem que se ter um plano. Este plano pode ser trabalhar por um ano em lugares diferentes, em áreas diferentes: num restaurante porque gosta de cozinhar, numa academia porque gosta de esporte, num escritório de direito ou em qualquer coisa que se tenha interesse. E se forem pais atentos ao filho e ele cumprir o plano combinado, vai dar certo.
Eu não sei se esta escolha é a correta, se é a fórmula da felicidade, mas é o que eu estou vivendo agora e talvez isto faça sentido para mais pessoas jovens e para aquelas pessoas que tem 20, 30 anos de trabalho e não agüentam mais e querem fazer coisas diferentes. Você não precisa radicalizar, use as suas férias, seus finais de semana e experimente. Contemporâneo é no sentido de hoje a gente ter esta opção, que antigamente não existia, não cabia.
Eu não sou um cara que vou em protestos, que levanta bandeiras. Eu tenho as minhas interpretações, acompanho a política, mas não fico falando sobre isso. O One Day Hand é uma forma de fazer a minha parte social.
Eu amo estar em movimento. Não sou apegado a ninguém. Minha vocação é estar em movimento. O One Day Hand é uma forma de viabilizar isto. É uma forma de poder trabalhar em qualquer coisa, em qualquer lugar do Mundo. Este é o plano maior. Tem uma coisa que eu estou aprendendo a fazer agora: que é contar Histórias. Eu preciso aprender a contar as minhas Histórias. Eu preciso saber contar Histórias. Com isso eu posso conseguir o que eu quiser.
Eu descobri nestes últimos anos que a gente não está sozinho e tem muita gente com o mesmo pensamento se sentindo sozinha, se achando louca, por não se encaixarem nos formatos da sociedade.
Entrevista realizada por Skype em 13 de julho de 2016.
Para saber mais sobre as experiências do Eduardo Talley e do seu projeto One Day Hand:
http://www.onedayhand.com
Créditos: Entrevista realizada por Skype em 13 de julho de 2016.
por Zé Mangini.
Acervo Pessoal – Matheus Penna.