O Rio é a cidade do meu coração. Não o Rio de hoje, mas o Rio onde fui criado, onde os morros derramavam sua exuberância no mar, onde o por do sol ganhava aplausos todos os dias, onde o samba fazia fundo musical em todas as esquinas, onde o malandro era apenas malandro, nunca ladrão. O Rio fervia. Grandes figuras e contadores de histórias como não há em nenhum outro lugar. Uma cidade alegre, cheia de vida, de cultura, de belezas.
Talvez esse Rio a que me refiro tenha sido um adolescente charmoso, encantador e sedutor. Talvez ele apenas tenha envelhecido e, depois de apanhar um tanto da vida, tenha se tornado um senhor aborrecido, incapaz de perceber como é capaz de ser desagradável. Uma daquelas pessoas que você só mantém por perto porque um dia ela foi bacana. Envelheceu mal, diriam os mais velhos.
Certa vez, o Tom Jobim, respondendo a um repórter que queria saber qual sua opinião sobre as diferenças do Rio e de São Paulo, disse: – São Paulo é bom! Mas é ruim. O Rio é ruim, mas é bom! O que diria ele hoje em dia?
O fato é que a vida me trouxe de volta para a minha terra mãe. São Paulo. Cidade onde nasci, onde minha família fez nome, onde moram minha mãe e meu irmão e as melhores memórias da minha infância. Eu voltei! E voltei surpreso com tantas novidades, todos os dias, em todos os lugares.
O paulistano tem toda razão de se orgulhar. São Paulo cresce todos os dias. Reinventa-se. Produz. Desafia a própria natureza para ser grande, maior, mais bacana. E aí eu me dou conta de que também sou paulistano e também tenho todos esses motivos para me orgulhar! E isso é bom!
Mas, no lado pessoal, sinto falta de quem ficou na outra ponta da plataforma dessa estação. Principalmente filha, mulher, enteados, família e amigos. Uma falta que chega a doer e contra a qual tenho que brigar todos os dias. Para isso acordo mais cedo, chego mais cedo, faço mais coisas, saio mais tarde e recomeço todos os dias como se fosse o primeiro.
Ainda evito declarar meu amor incondicional por São Paulo. Ele existe, mas fica escondido lá no fundo. Assumir esse amor é como se eu estivesse traindo o Rio e isso me incomoda. Não vejo a possibilidade de ser bígamo, ainda que isto seja só uma fantasia na minha cabeça.
O que dá pra dizer, sem nem precisar cruzar a Ipiranga e a São João, é que por aqui, alguma coisa acontece… todos os dias.
Zé Mangini