Era mais uma manhã de sexta-feira, como qualquer outra manhã de sexta-feira. Cheguei cedo ao escritório, subi, li e-mails, respondi alguns, me organizei para o dia e decidi descer para o café no Portuga e para um cigarrinho na calçada.
As calçadas são sempre fascinantes. Por elas passam todo tipo de gente, o tempo todo. Passa o homem magro e apressado. Passa um gordo apressado. Passa a menina vestida para a ginástica. Passa o velho que acompanha a criança para a escola. Passo eu, passa você. As calçadas de São Paulo são incríveis. Cheias de vida e repletas de vidas.
Entre o segundo e terceiro trago, chega um rapaz e me pede o isqueiro emprestado. Acendo o cigarro dele que tira o primeiro trago e me agradece com ares de quem quer conversar. Penso comigo: sexta-feira… por que não uma conversa qualquer com um desconhecido na calçada? Dou trela e começamos a falar sobre o dia, o tempo, essa coisa.
Em seguida ele me conta que está chegando para uma entrevista de emprego. Chegou cedo, muito cedo e muito feliz. Disse ter certeza de que conseguiria a vaga e me disse: – Ainda mais que a vaga é pra deficiente. Tô dentro! – fala e me mostra o braço sem a mão, que eu sequer havia notado.
A alegria dele transbordava. O sorriso saía por entre a fumaça de cada trago e ele seguia feliz, me contando sobre a sua vida. Era pai, disse mostrando a foto do celular. Acordou cedo porque queria ser o primeiro na entrevista. Trouxe consigo algumas canetas que venderia ainda naquele dia pelas calçadas da cidade.
O cigarro chegava ao fim, mas a conversa era boa e contagiante. Desejei sorte, mesmo sem achar que ele fosse precisar dela. Nos despedimos e eu subi para o escritório de alma lavada, súbito torcedor de um desconhecido, pensando sobre o fascínio que só encontro nas calçadas da cidade.