Os joelhos ficavam ralados e a dor era imensa. Mas o prazer de descer o morro escorregando, este não tinha preço!
Passava-se o tempo, aqueles ralados iam criando uma crosta e a gente ficava pelos cantos “cultivando” aquelas cicatrizes, rindo intimamente daquelas travessuras, saboreando, porque meninos, já viram não é?
Ah, quanta dor dos tombos, quantos arranhões, picadas de formigas, taturanas, nossa! E os marimbondos da tulha velha que sempre escolhiam os menores?
La fora o quintal nos chamava para brincar, os coquinhos amarelos cobriam o “terreirão” de café e nada, nada nos segurava.
Atravessávamos a “linha” (estrada), fugíamos das vacas e dos bezerros que também atravessavam por ali e subíamos as escadas de pedra escura do terreirão.
Eram enormes, altas; também só tínhamos seis a oito anos quando muito, tudo era longe, imenso e sem fim.
Subíamos de gatinhas as escadas e lá de cima olhávamos para o horizonte onde meu pai se esfalfava no trabalho pelos lados do “vira mundo”.
Comíamos o mel das plantas de que não sabíamos o nome, mas era doce. Andávamos nos equilibrando em cima do imenso paredão, olhando ao longe na curva da estrada que seguia para a cidade.
À noite brincávamos de esconde-esconde apenas à luz da lua. Na hora dos puxões, sempre uma roupa se descosturava. Ai Jesus! Isto era motivo para os puxões de orelhas de minha mãe na hora de dormir.
Nas férias tínhamos campeonatos de bugalhos que eu nunca ganhava; mas deles aprendia as técnicas.
No verão, saíamos com os primos e andávamos longas distâncias dentro do córrego, íamos rindo, brincando , jogando água nos outros, nos molhando e vivendo.
Nas tardes mornas, comíamos chorões que minha mãe fazia, bolo de fubá, queijos caseiros e os pés- de- moleque dos sonhos.
Tudo naquele tempo de brisa doce, de água morna e de vida plena…
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