Ainda me lembro do meu primeiro relógio digital, um Casio que meu pai trouxe de uma de suas viagens! Como era bacana! Como era simples para ver as horas, como era moderno aquele relógio! Vestia no pulso orgulhoso e contente da minha vida. Adorava quando me perguntavam as horas. Para responder, um lento movimento encenado, quase que em câmera lenta.
Com o tempo, a novidade envelheceu e mesmo assim eu continuava com meu Casio no pulso. Comecei a perceber que havia uma hora específica que eu via quase todos os dias. Eram 11:11. Não acontecia nada demais nessa hora, mas era bom de ver, bom de sentir e eu sorria.
Anos depois, minha mãe aparece em casa com um livro que tinha como título 11:11. Aí a coisa foi ficando mais séria. Eu não estava sozinho. Descobri que há centenas de milhares de pessoas que estão ligadas no 11:11 como eu. Gente tranquila e gente disposta a convencer o outro que isso é um sinal cósmico e que quem tem isso é uma espécie de anjo caído. Fugi disso. A única coisa que me importava era que o 11:11 me fazia sorrir e pronto.
Em 2010, no dia 22 de abril meu irmão me ligou e eu estava no meio de uma reunião. Me desculpei e atendi perguntando se era urgente. Era. Meu pai estava morto. Choque, choro, fim de reunião e início de uma nova fase de vida, agora órfão. Fui para casa, contar para minha filha que ela não tinha mais avô, fazer malas, rumar para São Paulo, enterrar meu pai.
No táxi, busquei no celular por informações da ligação. Descobri que meu irmão havia me ligado exatamente às 11:11. Sorri e tive a certeza de que meu pai estaria bem, onde quer que estivesse. E, por isso, decidi levar no pulso a marca das horas, a marca do tempo.
Adaptação por Zé Mangini