– Ah… o meu é o joelho. O seu o que é?
– Lombar…
– Deve incomodar muito mesmo. O que você faz, infravermelho? Eu até gosto, principalmente neste frio. É quentinho
– O ultrassom é nesta sala? Na do lado? Mas a moça me mandou entrar aqui!
– Nossa, hoje está bem vazio, não é? Que bom, assim vai mais rápido.
– Meu ombro me incomoda muito. Quando esfria, então, dói mais.
– Por que o rapaz que está na sala do infra está demorando tanto?
Eu vou afundando na cadeira, tentando passar despercebida na clinica de fisioterapia. Escolhi o horário da tarde porque a médica falou que era mais tranquilo. Só não me avisou que era o preferido das senhorinhas cheias de dores verdadeiras ou fabricadas.
Ligada na máquina dos “choquinhos”, não posso me mover em menos de 20 minutos, enquanto meu pé recebe o tratamento prescrito. Sem fazer contato visual com nenhuma delas abro meu livro e tento me distrair durante o tratamento. Quase consigo. A senhora que entra, senta quase ao meu lado e fala em alto e bom som: “Você é esperta! Trouxe um livro! Ajuda o tempo a passar mais rápido”. Sou obrigada a levantar os olhos e responder que sim. E assim acaba meu sossego porque cada uma tem uma história diferente de leitura, de como passar o tempo, até que, num movimento contínuo, voltarem para o assunto preferido… quem tem o problema mais complicado, qual a dor mais doída, numa disputa maluca que me faz sair rapidinho assim que a maquininha apita indicando que os choques acabaram. Nem espero a atendente: tiro toda a parafernália do pé e do tornozelo, calço meu tênis e saio com um breve até logo, já pensando em como vou aguentar a disputa pelas dores em cada uma das próximas sessões, até completar as 10 indicadas pelo médico.