No final da Augusta. Uma pequena rua em direção ao centro. Na placa, o nome do meu poeta preferido: Martins Fontes. A memória me traz de volta aos meus 15 anos. Uma noite, pedi a meu pai que me indicasse um livro. Ele me disse para procurar, folhear, buscar na biblioteca algum livro que me tocasse. Subi pelas estantes, olhei títulos, capas, cores e tamanhos de todos os tipos, até que meu olhar bateu em: “Uma Alma Livre” do Jacob Penteado.
Folheei e me interessei. Era a biografia de um poeta nascido no século XIX e morto no início do século passado. Seu nome era Martins Fontes e o autor do tal livro, um apaixonado por sua obra e, principalmente, pela sua vida. E que vida!
Algumas passagens são inesquecíveis e me ajudam a entender meus próprios valores até hoje. Certo dia Dr. Fontes recebeu em seu escritório um amigo para conversar. O telefone toca, ele atende e levanta-se apressado. Uma emergência, disse ele, venha comigo. Entram em um táxi e seguem para as docas. No caminho Fontes manda o motorista parar numa mercearia, sem que ninguém entenda o motivo. Coloca na mala do táxi um saco imenso de amendoins com casca e segue viagem. O táxi estaciona perto de um navio, de onde desembarca a trupe de um circo que acabara de chegar. Fontes vai para o porta malas agora aberto e, com os amendoins, seduz os elefantes do circo que o seguem em passeata por toda a cidade de Santos.
Outra. Fontes gostava de ir a pé para o seu consultório. Naquele tempo, Santos era coberto de árvores e as casas, todas sem cerca ou muros, mostravam lindos jardins floridos e arborizados. Num desses dias, Fontes percebe que havia uma macieira no centro de um jardim, coberta de lindos frutos. Não resiste. Segue até a árvore, ajoelha-se e declama versos apaixonados. Da janela, a embaixatriz dos Estados Unidos assusta-se, mas logo escuta da sua empregada que aquele era o melhor médico da cidade e que ela não deveria preocupar-se, ele era assim mesmo. Intrigada, a embaixatriz vai, ainda naquela tarde, ao seu consultório.
– Boa tarde, como posso ajuda-la, pergunta o atento doutor.
– Vim lhe tomar satisfação, responde. O senhor seduziu a macieira que trato como filha há tantos anos. Ela está apaixonada. O mal está feito. O senhor precisa tomar uma atitude.
– A senhora tem toda a razão e só há um meio de reparar meu feito. Caso-me com ela!
Riram e marcaram a data do casamento. Uma imensa e inesquecível festa com toda a sociedade de Santos, onde tudo, das bebidas ao prato principal, tinha um toque de maçã. E foram felizes para sempre!
As histórias e as páginas passaram mais rápido do que eu, menino, podia desejar. No final daquela noite eu já tinha uma nova referência, novos sentimentos, novos horizontes. Dormir? Nem pensar. Escrevi sem parar. Escrevi, rasguei, reescrevi e aprendi, devagar que as histórias só existem para serem lembradas e contadas.
Abro os olhos, leio novamente o nome na placa e abro meu melhor sorriso em agradecimento.