Quando nasci, meus pais já tinham um filho, meu irmão Rodrigo, três anos mais velho do que eu e o filho favorito.
Eles negam.
E eu obviamente já superei.
José é meu marido e pai do Samuel.
Samuel é o personagem principal desta História.
Da minha História.
Sammy, como o figura é conhecido, tem 9 anos, é lindo e nasceu em janeiro de 2007 em um dia de calor infernal no Einstein.
Ele com 35 semanas. Eu com 35 quilos a mais.
A gravidez foi incrível e muito desejada.
Não enjoei e comia tudo o que via pela frente, coisa rara pra quem nunca achou graça nessa moda de comer.
De sorvete de chocolate chic choc com salada de frutas a pratos gigantescos de arroz com feijão.
Na sala de parto com aquela roupa ridícula que nos obrigam a vestir e todos os outros detalhes bizarros que você só fica sabendo na hora (médicos contam tudo em doses homeopáticas), sabia que sairia de lá outra pessoa.
O que eu não sabia é que levaria um tempo para descobrir quem.
Meu marido José, pai do Samuel e responsável principal por me colocar naquela situação, se é que você me entende, estava ao meu lado usando uma touca verde.
Meu filho estava nascendo e a touca não saía da minha cabeça.
Meus pais esperavam atrás da janela da sala de parto.
Até hoje gostaria de ouvir os dois psicóticos histéricos esperando aquele momento.
Preciso dizer que sobrevivi e sobrevivo a espécie mais complicada que existe. Pais judeus. Me tornei uma.
Samuel nasceu gritando. E continua até hoje.
Os avós da janela, choravam. E continuam até hoje.
Beijei enlouquecidamente aquele pedaço de picanha todo melecado e já tinha combinado com o José, pai do Samuel, que não desgrudasse dele um minuto sequer dentro da maternidade.
Ele levou tão a sério que não desgruda até hoje.
Percebi que ficaria um bom tempo na sala de parto olhando para o teto. Ansiosa.
Olhei para o anestesista e com meu olhar mais sedutor (se é que isso é possível usando uma touca verde) e pedi o melhor coquetel que ele tinha por lá.
Foi a melhor viagem que fiz depois da primeira vez que fui pra Disney com meus pais e com o Rodrigo, o filho favorito.
Acordei já no quarto, nariz coçando, e quando abri os olhos a primeira pessoa que vi foi a minha sogra. Show…
Sammy chegou no quarto vestido de amarelo.
Odiava aquela roupa mas minha mãe insistiu que a primeira roupa tinha que ser amarela.
Aprendi a primeira lição, mães sempre vencem.
Meu loiro, lindo e de olhos azuis cor do mar da Sardenha, parecia um pintinho.
Amor a primeira vista.
E aí começava a mais linda e tranquila História.
Sim e Não.
Esqueci que aquele pintinho precisava mamar.
Quando a enfermeira veio com aquela mão no meu peito sem dó nem piedade quase tomou uma voadora, mesmo com os pontos da cesária.
Será que não da pra dar leite em pó para essa criança?
E ele precisava sugar com tanta força?
Já demonstrava grande parte da personalidade do Samuel.
O primeiro banho.
Como se segura essa criança?
Nunca nem gostei de brincar de boneca!
O pai dá.
O segundo? A Avó. O terceiro? O avô.
Pra que tanto banho???
Já em casa chegou a minha vez e eu não queria delegar o quarto banho para a enfermeira nazista que sabia tudo.
Só de olhar para aquele umbigo pendurado quase morri.
Mas dei. Tenho certeza que uma toalhinha molhada seria melhor.
O famoso baby blues me pegou de jeito.
Amava aquele bebe mais que tudo mas não tinha a menor habilidade pra lidar com aquilo.
A realidade é que ninguém te prepara para o que está pra chegar. Hormônios.
Eu acho que a gente aprende a ser mãe, e aprende a vida inteira, a cada etapa.
E aos poucos fui entrando nesse universo da maternidade.
De repente ficar sozinha com ele não parecia tão assustador, afinal ele era um bebê e não o Godzilla. Nem dentes ele tinha.
O José, pai do Samuel, já podia sair de casa sem ter que esperar a minha mãe chegar.
Finalmente mandamos a enfermeira nazista embora.
Comecei a tirar de letra crises de choro.
O Barney virou meu grande aliado.
Aprendi que trocar fralda e passar Hipoglós é super tranquilo.
O umbigo caiu rápido.
Quando desmamei o bezerro (amamentar é para as fortes) pude tomar meu combo Acqua Panna, Lexotan e Marlboro.
Olhei bem fundo naqueles olhos cor do mar do Caribe e falei:
Oi, sou sua mãe, to aqui e a gente vai junto nessa viagem aprendendo tudo o que o mundo tem pra nos oferecer. Juntos.
E hoje quem não desgruda dele sou eu.
Nem do José, pai do Samuel, é claro.
Juliana pode ser encontrada ao lado do Samuel, ao lado do José, pai do Samuel, ao lado do avô do Samuel, ao lado da avó do Samuel e ao lado do irmão, tio do Samuel. Sempre. Sozinha ela não fica. Nunca! A gente não deixa.
José, pai do Samuel