Nunca se usou tanto a expressão “conteúdo” como nos dias atuais. Antes usávamos esta palavra somente para informar a quantidade de volume em um recipiente ou para se referir ao que continha em uma caixa ou em algum pacote. Daí passamos a ouvir “tal pessoa tem muito conteúdo”. E pegou. Agora pretendem usar a palavra “conteúdo” para definir qualquer tipo de produção de informação e entretenimento. O que significa para você alguém ter conteúdo? E produzir conteúdo, então?
No meu entender, usar a expressão “conteúdo” está no mesmo patamar que usar a expressão “diferenciado”. São expressões destinadas àqueles que não possuem adjetivação suficiente para definir alguma coisa ou alguma situação.
Faz um tempo, de maneira simplista, pelo incômodo causado nos ouvidos, fui procurar no dicionário a palavra conteúdo. Eis a definição do Aurélio:
Conteúdo. (Part. Arc. de conter). Adj. 1. Contido. 2. Aquilo que se contém nalguma coisa: contento.
Só isso. Mais nada.
A Wikipédia é um tanto mais generosa, pois traz as várias aplicações contemporâneas da palavra, muitas delas oriundas da aplicação em inglês ou sempre se referindo ao todo.
Esta expressão passou, então, a ser usada para todos os fins de produção de entretenimento e informação. Como se fosse uma palavra que tem um significado tão amplo e que tudo se permite dentro dela. É correto isso? Ou sou eu que estou em atrito com esta palavra, tanto quanto o “diferenciado”? Pior ainda é a expressão que ouvi outro dia: “conteúdo diferenciado”. Parece a moda do verbo em gerúndio empregado nas empresas de telemarketing e que as pessoas passaram a usar indiscriminadamente. Dói nos ouvidos e na alma.
Até chego ao ponto de usar a palavra conteúdo em situações de referência a uma matéria, artigo ou tese, mas somente para me referir sobre qual é o conteúdo daquela matéria, site ou o que for.
Lógico que a língua é viva e que as expressões e palavras evoluem de acordo com as necessidades lingüísticas, usos e costumes da sociedade. Neste caso ainda temos a desculpa da intervenção e anglicanismo da palavra “content”. Lá no inglês, para os estudiosos de marketing, muito se usa “content”, tal como o famoso e também mal entendido branded content, quando deveria ser utilizada a expressão “branded entertainment”. Esta sim, já é uma gostosa realidade e deve ser o futuro da comunicação das empresas com seu público final.
Existem hoje empresas que carregam em seu DNA a produção de conteúdo. Outras então, usam esta expressão em sua própria razão social ou em suas denominações de departamentos inteiros. Já ouvi até professores de pós graduação usarem esta expressão em seus cursos. Estamos corretos?
Eu que vivo no meio da produção de entretenimento há alguns bons anos, realizando filmes publicitários, programas de TV, criando e produzindo matérias para revistas e jornais fico um tanto indignado quando minimizam todo este trabalho à simplista expressão “conteúdo”.
Produzir entretenimento ou fornecer informação, contando uma pequena História em uma mídia social, postando uma foto em um aplicativo ou escrevendo um artigo para um site de uma empresa, até a incrível produção de uma série para TV ou um longa metragem para as telas de cinema, é extremamente complexo e trabalhoso. Demandando muitas vezes uma quantidade de pessoas e um tempo muito grande para ser reduzido apenas à palavra “conteúdo”, não é justo nem coerente.
Conteúdo é tudo e é nada ao mesmo tempo! Usar a expressão “conteúdo” é deliberadamente diminuir o lúdico, informativo e emocional que são muito maiores e melhores.
As pessoas que produzem entretenimento, escrevem matérias, contam Histórias para uma marca, ou intervêm de alguma forma em todas as mídias de hoje em dia, deveriam dar o devido valor àquilo que realizam, denominando corretamente a sua realização, mesmo que seja para valorizar aquilo que criaram, produziram ou contaram.
Aqui, nós contamos Histórias. Histórias de todos os tipos para todas as pessoas. A Ana Barbieri, nossa cofundadora, também conta Histórias aqui e em outros lugares. Nossos amigos gostam de contar Histórias aqui. Você também pode contar quantas Histórias quiser por aqui. Somos abertos a isto e é de Histórias que gostamos. Pensei, estudei e trabalhei muito até chegar a este formato de contar Histórias. Poderia simplesmente dizer que produzo “conteúdo” para a minha marca. Mas História tem força, tem verdade, tem lembrança, tem sentimento, tem projeção, tem identidade e identificação.
Zé Mangini