Estou aqui. Tenho poucas horas de sono pela frente mas, apesar da luz apagada e de já estar abraçada por este cobertor macio, palavras não param de desfilar pela minha cabeça e me convencem a ignorar os olhos já pesados e pegar o celular para escrever.
A casa é toda de madeira e o som se locomove de maneira indiscreta e até romântica entre os ambientes. Ninguém se importa. Não há segredos aqui, estamos em família.
Neste momento escuto a conversa dos meus pais, no quarto aqui embaixo. São duas da manhã e, mais uma vez, acabamos de nos recolher. O papo noturno costuma ser animado e nos rouba a noção do tempo ao redor da longa mesa de jantar.
Os dois comentam tudo o que aconteceu hoje e compartilham informações sobre o dia seguinte: quem fica, quem volta para São Paulo, quando. Comentam que sairei bem cedo. Verdade. Eu deveria estar dormindo.
Invado a conversa deles graças à rusticidade da casa, mas não me sinto culpada. Acho lindo e reconfortante perceber que após cinquenta anos de casados, os donos e líderes desta família agora expandida estão ali, analisando, discutindo e trocando ideias sobre cada um dos quatro filhos, seus cônjuges e crias, em plena madrugada.
João e Vera começaram esta história a dois, tornaram-se seis e agora somos dezesseis.
Já é a terceira noite em que testemunho, de forma velada, a reunião da madrugada. Percebo que a pauta é manter a unidade e o equilíbrio da família. Escutá-los me faz um bem enorme, me alimenta de paz e segurança, como se eu ainda fosse a menininha de 5 anos que corria ao quarto deles para buscar conforto após um pesadelo.
A Casa do Vale fica nas montanhas e foi adquirida há poucos meses com a intenção de trazer filhos, genros, nora e netos para perto, em alguns momentos do ano. Líderes competentes, os progenitores desta família são excelentes estrategistas.
Poder dormir e acordar com pais e irmãos, revivendo a rotina das primeiras décadas de vida, é o tipo de presente que só uma família que ama ter e ser família pode dar.
Boa noite, Pai. Boa noite, Mãe. Boa noite, Pri, Paula e João Paulo. Boa noite marido, filhote, cunhados, sobrinhos. Sempre achei chato aquele seriado do John Boy em que as janelas da casa se apagavam e os irmãos diziam boa noite, mas hoje ele me parece cheio de significado.
Boa noite para você também.
Agora posso largar o celular e dormir. Este momento de plenitude já está registrado.
Foto do jardim da Casa do Vale, tirada pela irmã da Patrícia, Priscilla.