Muito me chama a atenção os suicídios de jovens que tem ocorrido aqui e no mundo. Há alguns dias, dois jovens alunos do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, levaram suas famílias e amigos ao desespero pela irreparável perda. Restando a vã tentativa de entender as razões que os levaram a tal atitude. Acredito que são situações extremas, impulsos, onde todos perdem, ainda mais quando se afirma que isto ou aquilo pode ter sido a causa, aumentando a culpa dos familiares e amigos, por eventualmente não terem percebido a pressão, as mudanças de comportamento ou que tenham incorrido em algum tipo de negligência. Quando o que nos resta somente, é confortar, com todas as nossas forças, aqueles que terão de conviver com estas perdas.
Não entendo de suicídios e não sou psiquiatra nem filósofo. Entendo somente da dor que sinto quando somos confrontados com notícias tão tristes. Fico com o coração rasgado quando penso nas famílias e amigos que passam por situações tão inexplicáveis. Não imagino dor pior do que um pai perder um filho – em qualquer circunstância. Deve ser daquelas coisas que o pensamento perdura em nossa cabeça ininterruptamente, 24 horas por dia.
Estudei no Colégio Bandeirantes na década de 80. De fato, não era um fácil. O nível de exigência era alto e eu tinha poucos amigos e nem um pouco do perfil para algumas matérias específicas como álgebra, trigonometria, física ou química. No último ano, acabei por sair. Mas em nenhum momento pude atribuir ao colégio qualquer coisa ruim. E o que ficou foi somente o aprendizado e boas lembranças, a não ser o lotado ônibus urbano que eu pegava na Dr. Arnaldo às 6 horas da manhã e que me deixava no final da Paulista depois de 50 minutos.
Muito pior do que o Bandeirantes, para mim, foi ter servido ao Exército logo na sequência, aos 18 anos. Esta sim uma experiência traumática e desnecessária. Mas mesmo assim, foi ali que eu aprendi a maior lição da minha vida: a de que todos somos iguais. Naquele ambiente e circunstâncias, todos vestiam a mesma roupa, estavam sujeito às mesmas ordens e passavam pelas mesmas situações surreais, quer na caserna ou em exercícios militares. Brancos, negros, ricos, pobres, católicos, evangélicos, inteligentes ou somente espertos, todos estavam sujeitos às mesmas séries incontáveis de flexões e abdominais, marchas que demoravam dias, barba feita, farda engomada, exercícios de tiro, montagem e desmontagem de fuzil ou qualquer outra coisa que os Sargentos nos davam a ordem.
A partir daí fui atrás de conhecimento e experiências. As mais diversas, por conta da minha constante curiosidade e inquietude. Por sempre querer mais e o melhor para mim. Fiz a faculdade de Direito, exerci a advocacia, criei uma editora de periódicos, fui jornalista, mudei de área de novo e embarquei na direção executiva de cinema e TV. Sempre me vendo como uma cara corajoso, aquele que jamais se acomodava e estava sempre em busca do novo e de desafios interessantes. Aprendi, aprendi e aprendi. Vivi, convivi e algumas vezes sorrateiramente desisti.
“Já tentou. Já fracassou. Pouco importa. Tente de novo. Fracasse de novo. Fracasse melhor.”
Samuel Beckett
Quantos fracassos colecionei? Com certeza incontáveis. Mas com a minha impagável auto-estima, jamais reconheci essas experiências como fracasso. Esta minha “multidisciplinaridade” sempre atribuí muito mais à curiosidade e inquietude na alma. Quem sabe este tenha sido meu maior erro.
Com este assunto dos suicídios, inúmeras manifestações equivocadas nas redes sociais e relembrando de meus fracassos, me deparei com um livro esclarecedor e ao mesmo tempo desafiador: As Virtudes do Fracasso, do filósofo e romancista francês, Charles Pépin, lançado em março deste ano aqui no Brasil, pela Editora Estação Liberdade. Este livro me abriu novas portas para melhor compreender e trabalhar nossos fracassos em todas as esferas, dos relacionamentos à vida profissional. É também um eficaz alerta de como a nossa sociedade não está pronta e não cria um ambiente propício para vivermos e aprendermos com os nossos fracassos.
Usando exemplos de vida de pessoas, frases e coisas com as quais cotidianamente convivemos, didaticamente, Charles Pépin traz um novo olhar sobre a importância do erro, mostrando que os fracassos inevitáveis ao longo da vida, são experiências essenciais no crescimento de qualquer um.
Quem sabe seja isso que devemos ensinar mais aos nossos filhos.
Entendemos com As Virtudes do Fracasso, que “Precisamos fracassar para nos tornarmos humano… Quando nos enganamos, quando fracassamos, manifestamos nossa verdade de seres humanos: não somos nem animais determinados por instintos, nem máquinas perfeitamente programadas, nem Deuses. Somos passíveis de fracasso porque somos homens e porque somos livres: livres para nos enganar, livres para nos corrigir, livres para progredir.”
“Eu nunca perco. Ou eu ganho ou aprendo.”
Nelson Mandela
Até a depressão pode ser entendida como um convite para se abrir uma janela para aquilo que não queremos ver. Segundo Pépin, a depressão “nos obriga a parar para nos questionarmos sobre nós mesmos, sobre a distância entre a nossa existência e o que queremos dela , sobre o que insistimos em negar, sobre os nossos desejos inconscientes. Quando é que nos perguntamos sobre nosso inconsciente, senão até sofrermos um colapso psíquico? A depressão indica que ‘sob o capô’ da consciência, há alguma coisa a ser esclarecida, decifrada ou entendida. Talvez seja então o começo de uma aventura salutar, o começo de uma psicanálise que nos tornará mais conscientes de nós mesmos, de nossa complexidade: em suma, mais sábios.”. E eu acrescento aqui, as síndromes de pânico, síndrome de burnout. Todas que já senti e passei em mais de um momento na vida.
Nós e nossos filhos, estamos vivendo épocas novas, difíceis, onde o novo impera e se impõe. São novas formas de se relacionar, são novas profissões, novos valores, tudo com muita tecnologia e situações inusitadas. Viveremos, com certeza, desafios desconhecidos. Fracassar no novo não é errar, mas sim viver! E a vida, para nós humanos, que temos raciocínio e sentimentos, tudo junto e misturado, é uma grande aventura para ser simplesmente e grandemente vivida ! E os nossos fracassos somente devem fazer parte dela. Nossos fracassos devem ser nossos tesouros, pois tivemos que vivê-los para descobri-los e sabermos os valores que eles têm. Os fracassos nunca devem ser o fim da nossa existência.
“Quando se toca uma nota, só a seguinte indicará se ela foi certa ou errada.”
Miles Davis
O culto ao sucesso que constantemente vivemos em nosso aprendizado, pode ser um erro! Até porque o conceito de sucesso é absolutamente relativo, pessoal e intransferível. Principalmente nestes dias de antagonismos nas redes sociais, blogueiras e influenciadores, com valores que mal sabemos de onde vieram e para onde vão. Temos que nos manter fiéis àquilo que realmente importa para nós! Ao nosso íntimo sucesso.
Já o fracasso, como posso entender hoje, é inerente a uma ação ou projeto pontual. Não pertence ao ser. Uma pessoa nunca fracassa, pois ela sempre aprende. O que fracassa é o projeto ou a relação, em determinado ambiente e condições. Nós devemos estar em contínuo crescimento e aprendizado. E assim devemos nos manter até o fim.
“Não fracassei milhares de vezes, consegui fazer milhares de tentativas que não deram certo.”
Thomas Edison
Conhecendo um pouco das Histórias de pessoas como Charles Darwin, Abraham Lincoln, Steve Jobs, Thomas Edison, Rafael Nadal,J.K. Rowling, Samuel Beckett e muitos outros caras que admiramos, tiramos a certeza de que o fracasso pode nos oferecer informações valiosas sobre algo ou sobre nós mesmos, que pode revelar um desejo ou oportunidade escondida, ou, fazer com que estejamos abertos para algo novo.
“Ter sido demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter me acontecido.”
Steve Jobs
Posso afirmar que conhecer os Outros, através das suas Histórias, nos faz bem! Ficamos pessoas melhores e podemos usar esse conhecimento em nosso benefício tanto quanto os nossos fracassos.
Todo mundo tem uma História. Qual é a sua?
Me conta. Conta para todo mundo.
Abraços, Zé Mangini
O tema é atual e pertinente. Não apenas pelas recentes tragédias no Bandeirantes, mas também porque o mundo está se transformando com imensa velocidade e seguindo um rumo tão novo e tão inovador que não dá para ter certeza do destino.
Faltou, meu querido amigo, dizer que a sua generosidade, nos acertos ou nos erros, é o que permite que você compartilhe suas histórias, evitando assim o fracasso e o erro dos amigos.
Esse texto é, para mim, o mais importante e essencial do 5511SP!
Parabéns e obrigado!
Edu
Eita! Muito obrigado pelas gentis palavras. A admiração e o respeito são recíprocos! E a intenção é esta mesmo: o livre exercício da empatia e emprestar, através de Histórias, experiências e conhecimentos. Grande abraço. Zé